Novo olhar sobre o universo

Museu Internacional de Ufologia, História e Ciência Victor Mostajo, em Itaara, completa 15 anos como uma referência na educação e turismo no interior do Rio Grande do Sul

Há muito tempo, numa Santa Maria muito, muito distante, um grupo de entusiastas dos segredos do universo resolveu que era hora de agir. Com seus painéis de madeira repletos de imagens e fotocópias de discos voadores embaixo do braço, cruzavam as ruas da cidade para montar suas exposições. Não demorou para que a necessidade de um local para receber o material de forma permanente surgisse com força.

Foi então que o historiador Hernán Mostajo resolveu aproveitar um terreno da família em Itaara para construir um espaço que pudesse receber o vasto acervo e as muitas histórias colecionadas ao longo de anos dedicados à pesquisa do tema. Em 24 de junho de 2001, Dia Mundial dos Discos Voadores, foi inaugurado o Museu Internacional de Ufologia, História e Ciência Victor Mostajo. Essa foi a primeira vez que um museu da América Latina se propôs a mostrar a ufologia como uma ciência, ou seja, uma forma de saber dedicada ao estudo dos óvnis.

Na velocidade de meteoritos, no entanto, o ar de pioneirismo da iniciativa deu lugar às críticas. Seu idealizador foi chamado de louco, oportunista e outros adjetivos pouco incentivadores. Nada que abalasse a determinação de Mostajo e seus seguidores. Na sexta-feira, esse mundo à parte guardado por quatro paredes no pequeno município da Região Central comemorou 15 anos de história. E, nesse meio tempo, suas atividades extrapolaram as paredes que guardam o acervo, quase todo ele fruto da curiosidade deste historiador, formado em 1996 pela antiga Faculdade Imaculada Conceição (FIC), que deu origem à Unifra. Hoje, a atuação do museu avançou para escolas de todo o Estado com projetos educativos itinerantes que aproximam a astronomia e as ciências de estudantes e professores. Considerado, atualmente, uma referência nas áreas de educação e turismo da região, o museu conquistou reconhecimento, baixou a bandeira da ufologia e levantou ainda mais alto a do conhecimento científico interativo.
   
– Muitas vezes, por questões econômicas, as escolas não conseguem trazer seus mais de mil alunos. Então, atuamos como um facilitador e levamos o museu até lá. Gosto de falar com muito orgulho que são mais de 170 municípios visitados, sendo que em mais de 70% retornamos mais de uma vez e conseguimos contemplar um universo maior de alunos. As chamadas palestras show que eu criei já foram assistidas por mais de 350 mil alunos e professores – comenta Mostajo.
Nas próximas páginas, o MIX convida aos leitores a embarcar em uma viagem rumo aos segredos do museu, que já recebeu cerca de meio milhão de visitantes e já deu suporte para 87 feiras de ciências, 178 trabalhos escolares, cinco teses de graduação, uma tese de especialização, duas teses de mestrado e dois curta-metragens.

Como quem guia uma espaçonave capaz de viagens intergalácticas à velocidade da luz, Mostajo conduz com maestria as visitas guiadas no museu. Admirador de assuntos fantásticos, como astronomia e evolução da vida desde muito jovem, o historiador sabe o efeito que um roteiro instigante pode causar. Que o diga um grupo de alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Centenário, de Ijuí, uma das dezenas de instituições de ensino que são clientes do espaço.

Guiados por Mostajo, por aproximadamente uma hora, os cerca de 40 estudantes ouvem sobre universos, planetas, galáxias, dinossauros, fósseis, evolução humana, paleontologia, astronáutica e, claro, ufologia. E se em sala de aula, quando tratados, alguns desses temas podem dispersar a atenção, o mesmo não ocorre durante o passeio. De forma teatral, com um discurso bastante didático e se utilizando de brincadeiras para interagir com os curiosos visitantes, o showman arranca gargalhadas e faz com que cada artefato exposto no local salte aos olhos atentos de quem adentra aquele pequeno universo.

– O museu é pequeno, então, você precisa teatralizar, emocionar. Essa é a fórmula. Tocar a emoção do jovem, do aluno, do idoso ou qualquer pessoa que venha no museu. Hoje, o museu funciona como uma grande ferramenta pedagógica – diz Mostajo.

Assumindo o papel de interlocutor, o historiador é capaz de transformar uma breve explicação sobre um icnofóssil – no caso, um dejeto animal com mais de 200 milhões de anos – em um verdadeiro frisson. Mas, obviamente, o cocô de dinossauro fossilizado não é o único atrativo do acervo. O Museu Internacional de Ufologia, História e Ciência Victor Mostajo tem documentos, recortes de jornais, lixo espacial, réplicas de dinossauros, pedaços de árvores com mais de 200 milhões de anos e uma réplica da Apollo 11 apenas duas vezes menor que a espaçonave que pousou na Lua em 1969. Por lá, os visitantes também se deparam com mistérios que ainda desafiam a ciência e historiadores como a enigmática Machu Picchu, a principal cidade da civilização Inca, que se desenvolveu onde, hoje, fica o Peru. Logo, também será construído um espaço temático destinado a saga Star Wars, que terá réplicas oficiais dos três droides mais famosos dos cinemas: R2 D2, C-3PO e BB8. Para o idealizador do espaço, no entanto, o grande diferencial do local em relação aos demais museus do mundo são os documentos sobre o famoso caso de Artur Berlet. Ao longo de 422 páginas, o gaúcho de Sarandi relata um suposto contato extraterrestre, em 1958, quando ficou desaparecido por 11 dias. E, por mais que ao longo de 15 anos a ufologia tenha cedido espaço para outras áreas de conhecimento dentro do museu, ao menos para a gurizada, ela continua sendo a preferida.


– Eu, enquanto aluna, não tive conhecimento sobre evolução, sobre como se dá a descoberta dos fósseis, por exemplo. Depois, os professores podem retomar essas questões que vimos aqui de forma bastante criativa. Muitos alunos não sabiam sequer o que é ufologia. A curiosidade deixa os estudantes mais autônomos e os instiga a buscarem mais sobre os assuntos fora daqui e fora da escola também – avalia a professora. Não por acaso, o prestigiado jornalista Arthur Veríssimo, em visita ao local, definiu Mostajo como o “Silvio Santos dos museus”.

– Eu nunca tinha visitado e fiquei bem surpreso. Gostei bastante da nave e dos alienígenas – conta Samuel da Silva, 12 anos, aluno do 7º ano, enquanto tirava fotos com os inúmeros ETs que habitam o local. Mas se engana quem pensa que somente os mais novos acabam encantados com a viagem no tempo e espaço proposta por Mostajo. Para a professora Jaqueline Kempp, que acompanhava os alunos da Escola Centenário e visitava o local pela primeira vez, a maneira teatral, lúdica e interativa com que o historiador apresenta os temas acaba instigando os alunos a buscar mais informações sobre assuntos que não são tratados com frequência em sala de aula.

Filiado ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e, segundo seu idealizador, um dos únicos três exemplares desse segmento no mundo registrados oficialmente dentro de padrões governamentais, o Museu Internacional de Ufologia, História e Ciência Victor Mostajo é autossustentável. E Mostajo não espera que as oportunidades caiam do céu. Em 2001, aproveitando a visita do cantor Zé Ramalho, que veio gravar um quadro para o Fantástico, fez o convite, e o músico acabou apadrinhando a instituição. Depois, o historiador aproveitou o alvoroço em torno da figura de Marcos Pontes e conseguiu com a Agência Espacial Brasileira um dos macacões usados pelo primeiro astronauta brasileiro na Missão Centenária, em direção à Estação Espacial Internacional.

Agora, passada quase uma década desde que foi anunciada, está prestes a sair do campo das ideias mais uma das ousadias de Mostajo. Trata-se do Observatório COSMOS, que leva esse nome em homenagem a Carl Sagan, famoso astrônomo e cientista norte-americano. O espaço contará com três potentes telescópios que possibilitarão aos visitantes uma nova perspectiva do universo. Mostajo explica que o grande diferencial do observatório é que os instrumentos de observação astronômica estarão conectados a monitores de 50 polegadas pelos quais poderão ser observados galáxias, estrelas duplas e planetas reproduzidos em 3D. Ou seja, ao olhar para uma cratera lunar, o espectador terá a real dimensão dela.

– É novo, pioneiro, diferente e ousado porque será o primeiro observatório turístico, científico e educacional do interior do Rio Grande do Sul. É muito gratificante – orgulha-se Mostajo.

Antes da inauguração do observatório, ainda precisarão ser feitos o calçamento do entorno, o projeto de paisagismo e a instalação dos telescópios. Como trabalham com verba própria, não há como garantir com exatidão quando ele estará em pleno funcionamento. Mas a previsão é que, em outubro, os amantes do espaço já poderão desfrutar do projeto, visto como um presente de 15 anos não somente para o museu, mas, também, para toda a região.

– Com certeza o museu é de grande importância para a cidade. Ele é um destaque bem pontual do município. A gente, enquanto morador de Itaara, sabe a importância de se ter um museu e os comentários que ouço em relação ao espaço são sempre bastante positivos – comenta o secretário de Desenvolvimento Econômico, Turístico e Cultural de Itaara, Luis Paulo Teixeira Canabarro.

Quem chega pela primeira vez ao peculiar universo localizado na bucólica Rua Vanderlei de Almeida, no Parque Serrano 2, pode até desdenhar do que o aguarda. Mas basta adentrar a porta de entrada do museu para que qualquer juízo de valor fique para trás.

– Eu gosto do impacto inicial. Quando a pessoa vê aquele etezinho em frente ao museu imagina que deve haver um bando de louco aqui dentro – comenta Mostajo.
E a credibilidade do museu foi construída, ano após ano, a partir do amadurecimento de seu idealizador e, claro, da seriedade do trabalho desenvolvido no local. Mostajo afirma que lá se faz ufologia voltada a critérios científicos. Ou seja, não é provada a existência de extraterrestres, discos voadores e outros fenômenos que há décadas despertam a curiosidade de milhões de pessoas mundo a fora. O historiador explica que o museu apenas salvaguarda histórias clássicas, preservando-as sem o comprometimento de provar o fato científico, somente o fato histórico. E isso resultou em credibilidade ao museu.

– O meu discurso de hoje é diferente do de 20 anos atrás, e isso significa amadurecimento. Não ficamos na ufologia do disco voador, da luzinha coisa e tal. Buscamos a ciência. Tem uma frase que diz assim: a ufologia me aproximou da ciência, e a ciência me afastou da ufologia. O museu é de ufologia e não vai mudar seu nome, mas é aquela ufologia voltada para aquele interesse que todos nós temos: a busca clara sobre se estamos realmente sozinhos no universo – explica Mostajo.

Para não correr o risco de perder a confiança conquistada pelo sério trabalho desenvolvido pelo museu, Mostajo conta que recusa convites para participar de programas de TV e de entrevistas para emissoras consagradas como a History Channel. O motivo: manter-se longe de polêmicas e fugir de abordagens tendenciosas, algo comum quando o assunto é ufologia.
– Chegamos a uma responsabilidade tão grande, que o museu conseguiu criar o projeto social Legião do Bem, norteado pela premissa de que nada adianta pesquisar a vida extraterrestre se eu não valorizo o ser humano, a natureza, meio ambiente. Todo o final da visita guiada é uma reflexão. Não adianta especular discos voadores e vida em Marte se não tenho aquele senso mais nobre de dignidade que é valorizar a minha espécie – conclui Mostajo.

Percebe-se com isso, que a longevidade do espaço não se deve ao seu tamanho, mas, sim, ao senso de responsabilidade ao tentar abordar temas complexos da forma mais correta possível. Tendo sempre em mente que os mais prestigiados cientistas já foram alunos um dia.

:: Fenômenos naturais ::

Ionização da estratosfera – Pode causar relâmpagos em forma de bolhas achatadas, que podem muito bem ser confundidos com discos voadores

Meteoritos – O corpo celeste entra em chamas na atmosfera da Terra, podendo ser interpretados como alguma manifestação alien

Bólido – São meteoritos ferrosos que entram na Terra e “passeiam” na posição horizontal. A viagem pode demorar até 15 minutos até eles se desintegrarem

:: Fenômenos mecânicos ::

Balões meteorológicos – São visíveis de dia porque refletem a luz do sol e, em grandes altitudes, podem confundir os observadores menos cautelosos

Lixo espacial – Há uma infinidade de pedaços de foguetes e satélites vagando soltos pela órbita da Terra. Eles costumam girar lentamente e, assim, refletem a luz do sol em intervalos regulares

:: Casos famosos da ufologia ::


Caso Roswell – Em 1947, um suposto disco voador caiu na cidade de Roswell, no Novo México (EUA). Até os dias de hoje, o governo americano nega as informações sobre o acontecimento, mas testemunhas da época e documentos confidenciais seriam evidências de que algo estranho ocorreu

ET de Varginha – Em 1996, em Varginha (MG), pessoas teriam visto uma estranha criatura. Ela seria bípede, com olhos vermelhos, pelo oleosa e marrom com três saliências na testa

*O Museu Internacional de Ufologia, História e Ciência Victor Mostajo estará aberto neste domingo. Haverá dois horários para visitação. Crianças até 12 anos não pagam, e adultos pagam R$ 10. Mais informações podem ser obtidas pelo (55) 3222-7669 ou pelo museufo.org.br

15h – Visita guiada Mistérios do Universo (sessão voltada ao público infantojuvenil)

16h – Visita guiada Abduções e Clássicos da Ufologia Moderna

*Será disponibilizada meia-entrada para estudantes e idosos mediante apresentação de documento




E X P E D I E N T E


reportagem
PATRIC CHAGAS

fotos
JEAN PIMENTEL

design
RAFAEL SANCHES GUERRA


www.diariosm.com.br

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  1. Section 1
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  3. Observatório pioneiro está próximo
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  5. O que pode ser?
  6. Programação